terça-feira, setembro 29, 2009

A Família

O futebol é uma grande família. Porém, por razões várias, alguns podem ser tratados como um guarda-redes perante a atabalhoação de Birame (tardes tranquilas onde dava para piquenicar na pequena área) e outros tratados como se fossem marcados pelo pragmático Sérgio Lomba (o que implicaria, no mínimo, uma lata de spray milagroso e muito gelo nas canelas, só para citar o paliativo mais imediato).
Existe então uma dicotomia na forma como os diversos jogadores são acolhidos pelos restantes agentes futebolísticos. Para designar esta dualidade de critérios (olá, sr. árbitro), costumamos dizer à boca-cheia, e recorrendo a uma alegoria de cariz familiar, que “alguns são sobrinhos e outros são enteados”.

Este jogador não escondia esse facto. Ele levou essa expressão a peito. Ele era mesmo, clara e objectivamente, um Sobrinho. Assumiu-o de forma cabal. E por causa disso era olhado de soslaio. Andava sempre “ó tio, ó tio!”, qual Donald atrás de Patinhas. Apesar de jamais ter alcançado o patamar de enteado, conseguiu ser internacional sem nunca ter tido padrinhos.



Já este jogador é alguém muito próximo de nós, visto que todos nós somos primos segundo uma teoria de inspiração bíblica. É verdade, nós não somos Albertinos nem Margaridos, somos primos. E por isso Primo é-nos muito familiar. Toda a gente gostava de brincar ao quarto-escuro com as suas irmãs, que eram as primas. Incluindo o treinador e todos os não-convocados. O Primo é primo de corpo e alma. O Primo é primus inter pares.


Ainda mais abrangente era Parente. Mesmo que fosse afastado, Parente estava por lá. Era Sobrinho e Primo e mais qualquer coisa. Parente reclamava sempre um quinhão de qualquer herança. Estava sempre presente nas convocatórias, pois ninguém se atrevia a deixar um parente de fora. E fartou-se de ser convidado para casamentos e baptizados onde não conhecia ninguém.

Eu por acaso tinha um parente que se chamava Horácio.

Não, não era este, mas este tinha um bigode. Além do mais, este era português e jogava no União da Madeira.
Dada esta especificidade, o Horácio não podia ser catalogado como sobrinho, primo ou mesmo como parente. A categoria de Horácio apenas se podia medir na escala de Horácios.
Um case-study, portanto.

quinta-feira, setembro 24, 2009

Au Revoir

Da Ponta Grossa chegaste, e de fininho saíste. De permeio, quebraste corações. Furaste redes. Deixaste marcas inusitadas gravadas a paixão e uma insaciável sede pela arte do golo.
Porque no fundo foste um artista.

Nem sempre esteticamente belo, é certo. Por vezes caótico e desordenado como um Jackson Pollock, mas nunca deixavas a tela por preencher. Colorida, a óleo, guache, ou com um simples pastel, a tracção total da tua arte não deixava ninguém indiferente. Eras um chiaroscuro num Mundo de sfumatos.

Eras Severo com os defesas contrários, que fraquejavam na marcação com o simples vislumbre das tuas golas levantadas ou camiseta escarlate. Serias tu uma alucinação ou Old Trafford teria feito uma visita à depauperada liga Nacional?
Um ameaçador "au revoir" ecoava nas ocas mentes de todos esses centrais que ensandecidos julgavam poder travar a tua sede pelo pote. Tristes coitados. Joelhos tremiam, olhos humedeciam, e tu - sem piedade - aguçavas a tua imparável paixão pelo horizonte. O teu horizonte tem quatro letras e chama-se "golo".

De cabeça présque rapada, gola levantada e um casual desprezo pela profissão que te põe o bagaço na mesa, tu puxas a culatra atrás e disparas.
Um tiro? Prefiro chamar-lhe um beijo. Um beijo de morte, um beijo de paixão, de desdém, de amor-ódio. Um ácido beijo que corrompe as outrora doces redes que separam o esférico das bancadas após ultrapassar a linha delimitadora da glória.

Ao fim e ao cabo, é de glória que tratamos. De grandiosidade. Da arte, da vida, da solidão da genialidade e da inspiração que bebemos da fonte divina. Tu, amigo, foste Deus e Diabo. Apagaste incandescentes Luzes e derrubaste graníticas Antas. Sentaste Zeus a teu lado e degustaste com ele um opíparo manjar. Persuadiste Vénus a partilhar contigo uma quente noite de paixão.

Ensinaste a arte do esférico ofício a bancadas de incautos simplórios que só queriam ver a sua equipa vencer. Porque futebol é muito mais que isso. Muito mais que vencer ou perder. Tu crias, tu destróis. Fazes mitos nascer com um mero olhar determinado - gélido na sua expressão, quente na sua profundidade. O desporto não existe. O desporto és tu, e o teu pincel. De Ponta Grossa ou fina, o Mundo é a tua tela e a bola o teu veículo.

Ensina-nos, Cantona de Paranhos. Sorri, no típico esgar jocoso dos predestinados. Levanta as golas e fura as redes. Dobra os postes. Verga os defensores. Porque entre nós público, e tu artista, não há cumplicidade. Há desprezo e admiração, há voyeurismo e genialidade. Há sedução.

Nunca deixes que te digam que foste uma mera imitação. Um falso ídolo de pés de barro, um Buda comprado na Feira de Espinho. Nada disso.

Tu és a vida. Severa como ela só sabe ser, marcante como só ela pode marcar.
Tu és Severo, Marcos. De bola no pé, e golo no placard.

Au revoir.

segunda-feira, setembro 21, 2009

Do Rocky I Ao Rocky VI

Por Javier Balboa

Rocky I – O Schuster disse-me que não contava comigo para o Real Madrid. Não me surpreendi: eu vi logo que o gajo era racista. De alemães não esperava outra coisa. E então fui dar uma volta. Estava eu a ouvir Bob Marley lá para os lados do Paseo de la Castellana quando um tipo cheio de estilo me abordou. Olhei-lhe para os óculos escuros e para a camisa aberta, cheirei-lhe o óleo que escorria das suas melenas e desconfiei logo: “Mau, queres ver que vou ter que aturar com ciganos a estas horas!...”. Mas o tipo não era cigano. Dizia que era o Rui Costa do Maior Clube do Mundo e tal e eu pensei bem e disse-lhe que não conhecia nenhum Costa no Real Madrid, e ele, ah e tal, mas este é que é mesmo o maior clube do mundo e o camandro, e eu “’Tá bem, ‘tá; vai mas é dar uma volta” e ele sacou de uma mala com 4 milhões e eu então rendi-me às evidências e tornei-me no novo Eusébio, o último de uma longa linhagem, contou-me o Costa. Eu só me lembrava do gajo do Barcelona que nada tinha a ver comigo, mas não quis contrariar. Preparei a bagagem e parti para o oeste bravio, para aquela terra a poente da Andaluzia, em busca de um papel que revitalizasse a minha carreira.

Rocky II – Fartei-me de ouvir “Eye Of The Tiger”, dos Survivor, nos primeiros dias em Lisboa. Tan. Tan-tan-tan. Tan-tan-tan. Tan-tan-taaaaan. Raio da música, é mais velha do que eu e os Survivor foram apenas um pouco mais que uns “one-hit-wonder” dos anos 80. Devia ter-me apercebido deste mau agouro. Mas o pessoal via-me a saltar à corda e a subir escadas e delirava. Tudo parecia correr às mil maravilhas e eles ainda não me tinham visto sequer a tratar uma bola. Claro que houve alguns mal-entendidos pelo meio. Houve um adepto que me disse que gostava mais de me ver a matar russos e eu respondi-lhe que esse era o Rambo, eu quanto muito seria o Rocky, mas era tudo Stallone e tudo bem, tem a sua graça. E houve um que me disse que tinha gostado de me ver no filme d’ “O Predador”, mas eu disse-lhe que esse era do Schwarzenegger e ele, “não, pá, não ‘tou a falar do herói…. tu não eras o monstro?”. E então amuei e fui jogar Playstation com o Mister Flores, que era um craque na matéria e nunca dizia que não a um jogo – isto até a Orsi Fehér começar a aparecer lá por casa do mister a querer jogar connosco, altura em que o Mister se tornou mais distante e estranhamente salivante da boca. “Solo tengo dos comandos, tío”, desculpava-se, enquanto me batia com a porta na cara.

Rocky III – Foi muito difícil adaptar-me à língua portuguesa. Um gajo vem habituado a ouvir “ipor la derecha!” e depois ouve um tipo a dizer “encosta-te à direita!” e dá por ele a centrar a bola contra o passarão que estava no último anel. Com o passar do tempo, comecei a ser menos respeitado que esse passarão. Um dia o Costa virou-se para mim e disse-me “tu hoje vais dividir a tua ração com a Vitória, que isto dos alimentos para animais está caro e ando a contar os tostões para fazer mais uns quantos milhões e contratar um espanhol de jeito” e eu calei-me e não comi durante dois meses. Depois formaram uma espécie de Soweto na Luz e fizeram com que eu, o Makukula, o Adu e o Zoro fôssemos amigos à força. O Binya era para se juntar ao gueto, mas até o Costa achou que isso poderia dar azo a uma acção do Corpo de Intervenção da PSP. O Yu Dabao também passou por lá, mas depois arrendou uma zona comercial de 400 m2 com a família dele e foi montar o seu negócio. O Mister Flores meteu-me a titular pela primeira vez num jogo de uma taça esquisita e eu fui para lá apostado em mostrar o meu valor. Mas eu já estava demasiado acostumado à Playstation e passei o tempo todo à procura de um monitor e com os polegares metidos para dentro. Ao fim de 37 minutos de muito gritar e esbracejar, o Mister retirou-me e eu fiquei muito triste e nunca mais fui jogar Playstation à casa dele. A Orsi que o ature.

Rocky IV – O Mister Flores foi-se embora e as pessoas lamentaram muito e acenaram muitos lenços na sua despedida, mas perderam logo toda a lamechice quando foram buscar o “Exterminador” para Mister. Percebi logo que tinham mudado o paradigma de filme de acção. Eles não queriam humanos, queriam máquinas. Comecei a sentir o tapete fugir-me debaixo dos pés. Mas tinha sido apenas um sonho. Quando acordei, o que me tinha mesmo fugido era o recibo de vencimento. E eu, ó diabo, tu queres ver?, fui falar com o Costa e ele, ah e tal, agora não dá, dói-me a cabeça, estou com o período, tive um dia de trabalho muito stressante, nem sequer fiz a depilação, querido, e eu, ai, ai, ai, onde é que eu já ouvi isto?... e confirmou-se, o Costa, esse promíscuo, andava com outros e já não queria saber de mim para nada. E eu assumi uma posição de força e fiz-lhe ver que “eu sou o Balboa!” e ele “pois, está bem, e eu sou um ganda director desportivo, queres ver?” e eu constatei que mais nada havia entre nós os dois. Rasguei a fotografia que tinha na minha carteira e chorei muito, mas que se lixe, directores desportivos há muitos e eu sabia que ainda tinha muito para dar à Playstation.

Rocky V – Tentei ir jantar fora mas disseram-me que os cães não podiam entrar. Eu disse-lhes que não era um cão, era apenas um extremo espanhol de cabelo esquisito e eles responderam que vai dar ao mesmo. Cheguei a casa e o senhorio tinha-me despejado, alegando que eu nem sequer possuía personalidade jurídica. Procurei arranjar casa numa habitação social mas os ciganos disseram-me que eu era má vizinhança e tive que me arranjar no barracão dos No Name até rebentar uma bomba que o destruiu completamente. Agora o meu grande amigo é o Jorge Ribeiro. Nem sequer é o Maniche, é o irmão mais novo dele, o tipo que levava na tromba do Maniche. Não posso ir mais abaixo. O Costa mudou o número do telemóvel e disse-nos que não podemos ir ver os jogos porque temos mau karma e também porque cheiramos mal por não termos dinheiro para pagar a água e tomar duche. Não nos deixaram entrar nos balneários, acusando-nos de termos pé de atleta e que isso era um fungo muito contagioso quase do tamanho do Saviola. Como também não nos deram bolas nem pudemos utilizar os campos de treino, eu e o Jorge Ribeiro entretivemo-nos a jogar à sardinha numa bancada inacabada do Seixal das 8:30 às 18:00. Um dia jogámos à macaca e ganhei com tanto à-vontade que o Jorge ficou muito triste. Dei-lhe o pão com fiambre que iria ser a minha ceia de Natal só para o ver mais arrebitado.

Rocky VI – O futuro pertence a Deus, que é como quem diz ao Costa. Ou seja, esperam-me longos meses nas filas do Centro de Emprego e Formação Profissional. Equacionava entrar no programa das Novas Oportunidades, mas o Costa tem medo que eu vá para o Porto. O Evangelista do Sindicato diz que eu sou um burguês com uma cláusula de rescisão de 20 milhões e que tem saudades de falar à televisão com o Jardel ao lado e uma piscina ao fundo. O Jorge anda esquisito, noutro dia vi-o a falhar penalties imaginários na Sopa dos Pobres e a rir-se para si mesmo. O Costa faz de conta que não me conhece, mas eu sei que o seu coração, lá no fundo, ainda bate por mim. Afinal, 4 milhões não se podem esquecer assim de um momento para o outro. O Exterminador não nos pode ver à frente, nem a mim nem ao Jorge, e quando nos vê ao fundo começa logo a dizer “voceses os dois, quero que desamparem a loja e não aparecem cá nem nos intervais dos jogues, ‘tá bem?” e eu não percebo nada mas sei bem reconhecer a fúria de um Exterminador quando olho para aqueles olhos vermelhos. Sem dúvida, o Benfica está a ser o maior filme da minha vida.

sábado, setembro 19, 2009

Cartazes Eleitorais

Caneira deu o pontapé de saída.
Os cromos entraram em campanha eleitoral.
E que fabulosos portentos técnicos observamos nos outdoors que tapam a paisagem.
É isto a política-espectáculo que leva gente às escolas primárias ao Domingo para votar.
Ponham os olhos nisto, meus senhores.

quarta-feira, setembro 16, 2009

Não há Fumo sem Cromo

Sporting Clube de Portugal: viveiro inesgotável de semi-inconsequentes talentos distribuídos de forma carinhosa e baratucha pelos maiores clubes Europeus; poço sem fundo de extremos velozes, azeiteiros e tecnicistas; professor dos mais brilhantes alunos da ciência que é levar uma multidão ao orgasmo colectivo através de uma finta de corpo...porém, nem todas as árvores deste pomar dão maçãs reluzentes. Umas têm bicho, outras são farinhentas, e outras sofrem dessa terrível doença que afecta frutos promissores um pouco por todo o pomar de Alcochete: A Gisvite.

No início do Século XXI, uma solitária maçã caiu longe da árvore que lhe deu a vida. Rebolou enlameada, até parar seu percurso junto de um qualquer agricultor que a enviou prontamente para um périplo que passou pelos deprimidos quintais da Maia (pré-Carlos S.), Póvoa de Varzim (pré-e-pós Alexandre) e Faro (pré-posição).
Confirmava-se. O agricultor de Alcochete queria a sua maçã longe das outras, não fosse ela contaminar todo o seu promissor pomar com a terrível Gisvite.

Essa maçã chamava-se Fumo, e os seus sonhos foram-se lentamente esfumando (heh...) à medida que os sintomas da terrível Gisvite se tornavam mais evidentes: visão periférica de jogo afectada pela Doença de Cid, José; recepção de bola a fazer lembrar a ganadaria Higino Soveral; e discernimento em campo semelhante ao jornalista que teve a ideia de fazer a reportagem com o pastorzinho cujo sonho era conhecer a então Mega-Estrela Mantorras.

A Gisvite era uma evidência, e assumia-se galopante.

Perante a fortíssima possibilidade de registar menos evolução na carreira do que o papel higiénico ao longo das décadas, o tristonho Fumo ponderou assumir a sua humilde condição de maçã bichosa, e manter-se à parte do verde pomar que o viu nascer. Mas a vontade, essa, continuava a ser muita. Quem nunca sonhou jogar ao lado de Didier Lang que levante a mão. Pois é... ("tu não contas, Diego Armando, baixa lá isso que já criaste problemas que chegassem aos ilhéus com essa mania.")

Perante esta realidade, os agricultores de Alcochete tomaram uma decisão drástica: boicotar a carreira desta maçã, para que nunca mais sonhasse aproximar-se do seu precioso pomar.








Os tentáculos do verde polvo cedo se espalharam pela Europa, e a UE foi o primeiro passo:

- "Bruxelas Propõe Europa sem Fumo", vociferavam as agressivas parangonas, "(...)a proposta de recomendação hoje adoptada pela Comissão Europeia insta os 27 a agir em "três frentes principais", a primeira das quais a adopção e aplicação de "leis que garantam a plena protecção dos cidadãos contra a exposição ao Fumo em locais públicos fechados, locais de trabalho e transportes públicos(...)"

O avançado moçambicano sentia-se como um John Rambo de 69kg. Renegado pelos seus, impedido de exercer a sua profissão, e impossibilitado de andar de autocarro, Fumo sentia-se perdido: "E agora, como hei de ir ao Pingo Doce comprar mais daquele delicioso chouriço?!? De bicla? Poupem-me!", foi a sua primeira gota de exprssão de dor. Mas havia mais.
Até a normalmente ponderada Comissária Europeia da Saúde, Androulla Vassiliou, alinhou na perseguição ao móvel atacante ex-Sporting:

- "Estou plenamente convicta de que todos os cidadãos europeus sem excepção merecem ser plenamente protegidos contra o Fumo. (...) trabalharemos em conjunto com os Estados-membros para concretizar esta convicção."

Perante esta enxurrada de comprometedores factos, ecos fizeram-se ouvir:

- "Agora é que nunca mais te chegas perto dos nossos incautos rebentos, sacripanta.", regojizava-se em Alcochete.

- "Não era mais fácil atirá-lo das escadas abaixo?", questionava-se na Invicta.

- "Passa o garrafão, ó Toni!", balbuciava-se na Luz.

- "O Yulian tinha uma penca que Ai Jesus!", queixava-se Zé Mota em Paços de Ferreira.

Mas Fumo, estóico, não alinhava no mesmo diapasão (apesar de Marante ser o seu artista popular favorito). O africano, apostando na sua própria agência de contra-informação, conseguiu permanecer em Portugal durante mais quatro épocas, sob o radar das divisões secundárias e do nariz do Yulian (que era mesmo bastante grande, o Mota tem razão).

Porém, os verdes tentáculos sentiram um leve odor a queimado. Primeiro pensaram que teria sido um bolo que Pedro Barbosa teria deixado no forno, mas rapidamente chegaram à conclusão que o Cruyff de Gondomar jamais se esqueceria de um bolo em sítio algum.
Assim sendo, só poderia ser mesmo cheiro a Fumo.

Rapidamente agiram, e lançaram a seguinte lei, de pronto aplicada no Alvalade XXI:

- "De acordo com o decreto Lei nº 37/2007, é proibido Fumo nas zonas de restauração do Estádio, bem como nos corredores de circulação e escadas. No caso particular dos Camarotes deixa-se ao critério dos detentores o Fumo no seu interior, sendo que nos casos em que a opção for positiva, deverão mater a porta de acesso ao corredor fechada."

Sentindo a careca (que efectivamente não tem - senão seria o Semedo) a descoberto, o avançado ao serviço do Olhanense pôs em marcha um processo que acabaria com a sua transferência para o Chipre, onde estaria a salvo tanto da mafia verde, como do punho opressor da UE, visto que ele era da opinião que o referido País não faria parte da União Europeia - sejamos francos, desde que isto se avacalhou até aos 27 membros, que já ninguém tem a certeza de nada.

Assim, lançou mais uma inteligente campanha de contra-informação, desta feita através do bigode de Isidoro Sousa:

- "(...) o presidente do clube algarvio adiantou que o atleta “encontra-se na Síria desde ontem a fazer testes médicos” e não em Israel, como inicialmente estava previsto. “De momento está tudo a ser tratado com o empresário do jogador e desconheço o nome do clube que vai representar”, confessa Isidoro."

O bigode algarvio confessou, e quando um bigode algarvio confessa, nós ouvimos.
Alívio foi a reacção vinda de Alcochete. Os agricultores responsáveis não sabiam bem onde ficava a Síria, ou mesmo Israel, mas "deve ser daqueles sítios onde se lançam bombas e onde mora o Kassoumov".

Sossegados com a ostracização do fumegante delantero, os dirigentes leoninos decidiram guardar os tentáculos no bolso e deixar o futebolista prosseguir a sua esfumaçante carreira bem longe.

De toda a forma, Fumo veio recentemente repudiar comunicados trazidos à baila já durante os anos de 2008 e 2009, a saber:

- "A proibição do Fumo em espaços públicos ou de trabalho está a traduzir-se no decréscimo da afluência de doentes a emergências hospitalares em países que adoptaram a medida", diz um relatório da Organização Mundial de Saúde.

- "(...) distúrbios entre o Mannheim e a segunda equipa do Kaiserslautern resultaram em 36 detenções e oito elementos policiais feridos(...) os incidentes continuaram na estação de comboios, com os adeptos do Kaiserslautern a lançarem bombas de Fumo."

- "A eleição do novo Papa foi anunciada hoje às 17:50 pelo Fumo branco da chaminé da Capela Sistina mas os sinos da Basílica tardaram a repicar. Inicialmente, as imagens do Fumo transmitidas em directo pelas televisões induziram em erro - o Fumo parecia negro, e não branco, só aos poucos "estabilizando" nesta última cor."

Alcochete negou qualquer envolvimento nestas questões.

sexta-feira, setembro 11, 2009

Mercados II

Mantorras é o novo CEO não-executivo da Siderurgia Nacional – numa arrojada remodelação organizativa, a Siderurgia Nacional cooptou o avançado angolano Pedro Mantorras para seu novo CEO não-executivo. Uma fonte ligada à Siderurgia revelou que “esta designação insere-se na nova filosofia de marketing da empresa, apostada em adquirir uma imagem mais moderna e menos, digamos, enferrujada, junto do grande público”. Pedro Mantorras, apesar das suas fracas qualificações académicas e do seu microscópico tempo útil de jogo, é conhecido por ser a estrutura metálica mais famosa das imediações do Colégio Militar e pelo poder de motivação junto de franjas mais impressionáveis da população. As peças do angolano já foram inclusivamente avaliadas em cerca de 90 milhões de euros, mas nesta altura Mantorras deverá apenas receber uma quantia não revelada de óleo para as juntas e de dispositivos anti-magnetizantes.
Mantorras, neste seu novo cargo que foi criado especialmente para ele, não terá sequer que comparecer nas reuniões do Conselho de Administração. A mesma fonte apontou que o grande e único objectivo é que Mantorras “consiga dar uma dúzia de passos consecutivos em cada aparição pública, o suficiente para dar uma excelente imagem da enorme fiabilidade dos nossos produtos perante vários milhões de adeptos, tanto os animais como os vegetais”. No longo-prazo, espera-se que “[Mantorras] seja mais reconhecido como produto metálico de características humanóides” do que como “um avançado engraçado”, algo que deverá garantir à Siderurgia “para além duma publicidade monstruosa e barata, o direito a um subsídio comunitário pelo investimento tecnológico, no âmbito dos Quadros da Apoio da UE actualmente em vigor”. À hora do fecho da edição, Mantorras encontrava-se em fisioterapia num alto-forno, sendo impossível recolher reacções. Carlos Azenha descobre o seu primo nas últimas captações – a aturada prospecção de jogadores levada a cabo por Carlos Azenha, que envolve pás de alta precisão desenvolvidas por um consórcio luso-nipónico que emprega 150 unidades de mão-de-obra especializada em Gavião e que conta com o apoio explícito do Ministério da Economia, parece finalmente começar a dar frutos.
Com efeito, Azenha descobriu uma laranja em bom estado de conservação na terça-feira. E na última madrugada, Azenha, enquanto recolhia elementos num ginásio suburbano, deu de caras com o seu primo, com o qual costumava brincar pelas avenidas de Moscavide quando tinha 13 ou 14 anos. Não chega para acalmar a desconfiança dos accionistas, que só após duas agitadas assembleias aprovaram o plano de negócios apresentado por Azenha, mas já é um começo. A laranja deverá estrear-se na defesa e o seu primo, por exigir um “exorbitante” ordenado de 500 euros mensais, vai apenas devolver a bola que roubara a Carlos Azenha na sua adolescência, engrossando o lote dos reprovados. “Sem ressentimentos, há ligações que devem chegar ao fim. Ainda ganhei alguns dividendos”, declarou Azenha à saída de um encontro com potenciais futebolistas nos Inválidos do Comércio.
Azenha já procurou na sua casa, na sua rua, na sua cidade, no seu distrito, na sua província, na sua região, no seu país, na Península Ibérica, Marrocos, Brasil, PALOP, República Dominicana, Seychelles e até andou atrás do Abel Xavier durante 40 dias e 40 noites, mas até agora ainda não encontrou o perfil desejado. Já foram testados seguranças, empregados de bombas de combustíveis, chauffeurs, técnicos de plastificação, desempregados da construção civil, dois deputados, três membros eclesiásticos e um orangotango sem sucesso. Azenha passou inclusivamente o limiar mínimo de exigência de “ter jogado numa competição nacional” para “não possuir doenças infecto-contagiosas nem ser comunista” e nem assim conseguiu alguém que quisesse jogar pelo que o clube (dizia que) pagava.
Azenha não pretende desarmar, acalentando esperanças numa jazida de bons jogadores baratos que poderá estar ali ao virar da esquina. Recorde-se que é difícil extrair jogadores de boa qualidade pelas bandas do Sado desde a deslocalização dos principais investidores, sendo por isso muito bem-vindo alguém, ou algo, que dê dois pontapés seguidos numa bola. Todavia, durante as suas escavações no deserto de Gobi, Azenha não deixou de reconhecer que “se não encontrar ninguém nesta areia, pelo menos aproveito-a para fazer um dique que me proteja da linha-de-água”, espreitando assim novas oportunidades de negócio.

quarta-feira, setembro 09, 2009

Mercados I

UBS revê estado de Guarín de “quase ameaçado” para “vulnerável” e fixa preço-alvo do próximo jornalista atropelado em cinco pontos por escoriação – “O colombiano Guarín está demasiado exposto ao risco”, escreve a UBS no seu último report trimestral. Numa tentativa de salvação, Guarín, cujas dificuldades sentidas na penetração do mercado europeu já tinham sido evidenciadas pelo decréscimo significativo do EBIT no Relatório do 1º Semestre de 2009, interpôs um processo junto das instâncias europeias, acusando de abuso de posição dominante os jogadores incumbentes. Porém, o Tribunal de Justiça Europeu decidiu desfavoravelmente e agora Guarín fica sujeito a retaliações e com um elevado serviço de dívida para suportar. Para além deste fracasso argumentativo, uma performance algo desapontante no seu core-business levou a UBS a baixar o rating de Guarín. Para a instituição suíça, existem três trajectórias em aberto para Guarín a partir deste ponto: procurar com urgência um quarto em Olhão, ser vendido por €15M ou levar um enxerto de porrada. Para Guarín a solução pode passar por estabelecer uma parceria local. O que, para a UBS, deverá obrigar a “uma protecção reforçada nos genitais, no mínimo”.

Por outro lado, e dado o grande sucesso mediático da novel campanha publicitária rodada a alta velocidade numa descida estreita da Invicta, as próximas escoriações provocadas aos jornalistas pela firma dCC (cuja Comissão Executiva é partilhada pela dupla da Costa/ Cerqueira) deverão atingir cerca de cinco pontos a atribuir no hospital da região. A UBS especula que o próximo visado “poderá ser do Record, que possui vários activos estratégicos na zona, mas também não excluímos uma investida na SIC e mesmo um repórter distraído com aspecto de Peninha pode ser trucidado acidentalmente por um Caterpillar de 30 toneladas na sua casa-de-banho”. Viram-se assim confirmadas as perspectivas optimistas de Julho, que corrigiam o efeito da sazonalidade e apontavam para um target de quatro pontos e um joelho inchado. Neste momento, a dCC segue no azul, contrariando a tendência geral vermelha do índice bolsista, cotando-se nos quatro pontos, um sobrolho roxo e uma unha negra. A dCC mostra-se confiante perante os stakeholders e empenhada em “dar muitos pontos de valor acrescentado” no exercício presente, sob o mote "who's next?"
Pedro Barbosa inaugura confeitaria de éclairs“É com orgulho que lanço a primeira pedra deste investimento que irá criar cerca de 5 postos de trabalho directos e um número indeterminado de postos de trabalho indirectos, entre dentistas, esteticistas e clínicas de peso, entre outros”. Foi assim que Barbosa se dirigiu aos convidados naquele que foi o lançamento simbólico da sua primeira confeitaria de éclairs em Freamunde. Depois do sucesso tremendo que foi a sua primeira experiência empresarial – a fábrica de croissants P.B., em Alcochete – este passo surge “naturalmente”, segundo Barbosa: “Sentia-me um pouco enjoado de tantos croissants, mesmo após ter experimentado várias massas folhadas e recheios diversos. Rodeei-me de vários e ilustres gulosos e concluí que teria de avançar para outras áreas de negócio na doçaria, sob pena de me sentir asfixiado. O alargamento para novos mercados foi inevitável". A conjuntura acabou por ser favorável: "Os termos do project-finance foram vantajosos e reuni-me com alguns experts da matéria. Ninguém no meu trabalho me pressionou para não avançar com este projecto. Muitos nem sabiam por onde eu andava. Para dizer a verdade, foi uma surpresa para todos eu estar aqui neste momento com um éclair na boca. Não está ao alcance de qualquer Director Desportivo”. A opinião de Quinito figurou entre as vozes ouvidas por Barbosa? “Certamente”, confidenciou. “Quinito é uma autoridade na matéria, um valor seguro na prova de doces. Fiquei extremamente satisfeito por ter respondido afirmativamente à nossa proposta de indigitação para Presidente do Conselho de Supervisão”.
Inicialmente, a nova unidade, que estará concluída, à imagem da velocidade que Barbosa propagou nos relvados, lá para 2020, na melhor das hipóteses, irá produzir éclairs recheados com doce de ovos ou chantilly e com cobertura de açúcar branca ou achocolatada, “sem corantes, mas com algum aspartamo de última geração, aproveitando a boleia dos recentes desenvolvimentos tecnológicos”, não estando posta de parte a confecção de rins ou até mil-folhas. Porém, e para já, Barbosa está apenas interessado em consolidar o know-how pasteleiro e não admite precipitações: “Um passo de cada vez, um éclair por cada sobremesa”. Os éclairs irão abastecer sobretudo a zona centro-norte, mas um acordo de distribuição assinado com alguns dos seus antigos ou actuais companheiros de clube poderá, com sorte, levar os éclairs Barbosa até à América Latina. Mas, por enquanto, se forem abaixo de Ermidas-Sado já é bem bom.

quarta-feira, setembro 02, 2009

The Gift From Above

Na maior oferenda vinda do Mundo futebolístico desde o apaixonado presentinho que Carlos S. endereçou a Beto Acosta - talvez com a excepção da gonorreia que Paris doou a CR7/9 - , o jornal "A Bola" escarrou aquilo que podemos apenas designar como uma tela pintada por Deus com um dourado pincel emprestado por Jesus Cristo.

Claro, a comparação do "outro" Jesus a um (também eloquente) ciborgue alienígena salta à vista, mas há mais docinhos para degustar.
Atente-se no cantinho dedicado ao mais recente reforço escarlate: o brasileiro Felipe Menezes, que ninguém conhece e jamais alguém viu jogar, mas que pelos vistos será a reencarnação terrena de George Best, com uma pitada (ou snifada) de D10s, salpicado a pedacinhos de Kaká.

Com o não-autarca-gaiense, regressam também as típicas declarações de reforços da imponente ave de rapina:
- "blá blá blá maior clube do Mundo!"

Estas diferem sobretudo na forma como se interpreta o supracitado "blá blá blá". No caso do brasileiro, salta à vista um coloquial e expressivo "puxa". Na minha qualidade de rebento dos anos 80, agredeço à referida gazeta diária por recuperar uma expressão que não via impressa desde os livros de BD da Turminha da Mônica ou do simpático Pato Donald. Puxa vida!

Do outro lado da rua, um natural do País da BD Salomão e Mortadela - Miguel Ángel Angulo - começa mal a carreira de leão ao idoso peito.
Sabendo ele (?) a aversão que o irascível Coach Forever tem à falta de polivalência, iniciar o seu percurso em Alvalade fazendo manchetes com uma rotunda nega a uma posição específica cheira a harakiri precoce.
Adivinha-se vida difícil para o sucessor de Robaina e Toñito.

Mas na realidade o prato forte é mesmo a mais recente encarnação de Jesus como o modelo 101 da Cyberdyne Systems. De facto, não se trata de um tema que a Mad TV já não tenha abordado no passado, mas a Sarah Connor que se cuide. Sarah, pega numa gramática da língua portuguesa e protege-te. Ouvi dizer que funciona como uma espécie de kryptonite para o cyborg em questão.

"Listen and understand! That terminator is out there. It can't be bargained with! It can't be reasoned with! It doesn't feel pity, or remorse, or fear. And it absolutely will not stop, ever, until you are dead!"












Sarah, quem te mandou conjugar verbos de forma correcta? Utilizar preposições? Prefixos, sufixos, essas modernices. Sintagmas nominais são para maricas, e utilizar o plural é um preciosismo ridículo.
Sarah, és uma provocadora. Tu afrontas, desafias.
Agora? Agora foges.
Corre. Corre rápido, e corre bem. N'Tsunda-te.
Porque ele vem aí, vem de mota, está lixado e tem um olho vermelho.

Pior, está abespinhado e só quer sofrer 7 golos - sete - até final da época.
Dá graças a Deus, Sarah...ao Pai de Jesus, o original - aquele que não andava de mota e conjugava os verbos. Porque graças a ele, o Celta de Vigo não milita na primeira divisão Portuguesa.

E perguntam vocês, "porquê esta capa e não qualquer outra?".
Sim, é verdade. Tem sido um Verão especialmente frutífero em manchetes que calcorreiam destemidas em bicos de pés a ténue fronteira entre a insanidade e a comédia não intencional.
Mas o meu coração pende para a ambição carnavalesca de transformar futebolistas da lisboeta 2ª circular em personagens de cinema, sejam eles ciborgues do futuro, Robin Hoods em Collants, ou gajos que protegem anões de pés peludos com espada tamanho XL.

Ou isto. Para mim, tudo o que venha à rede é Emílio.
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